Street racers?

Da Thinkfn
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right Este post advém da observação da reportagem da Sic do dia 27 Ago 2006 de uma reportagem sobre os "alegados" ou melhor "auto-proclamados" street racers em Portugal, que nem sabem o que é correr... Valha-nos!

Que vergonha... Mais ainda! Que embaraço que nem sei onde me meter - que me considero um razoável "piloto".

Após honrosos cursos em Itália da Maserati e da Lamborghini, esforços hercúleos em Marrocos com 4x4 citadinos, muitos anos de Física (leia-se faculdade) e paixão genuína por fenómenos cinéticos, sinto-me indescritivelmente triste por ver esta geração de pseudo-racers - que nem português quasi correcto sabem falar (quanto mais discutir mecânica e muito menos correr ) - a se posarem como um culto (da treta) de "street racing" e a serem levados a sério por jornalistas cujo brio deveria passar por consultar pilotos também - isto antes que a malta se aterrorize com mais uma notícia sensacionalista, pois qualquer medricas com um Veyron lhes dá ratada, ou uma habilidoso com um M3 (BMW).

Meus caros, nenhum "racer" à séria o será alguma vez considerado pela velocidade de topo, isto do "drag racing" à séria tem um limite chamado "400 metros", não os 18 km da Vasco da Gama, pública, onde se pode perfeitamente, sem andar a "competir", chegar aos 300, ultrapassando a malta em viajem, viajando. É uma boa estrada, mas não deixa de ser para uso público, responsável e seguro - não é para corridas!

O que está em causa, caso se queiram intitular de "pilotos", é habilidade, rapidez, e preocupações com segurança, não é a velocidade de topo - esta última compra-se, não se "dá", e depende do tamanho da carteira, não dos tomates nem da perícia - corram na Arrábida e verão o que quero dizer (aliás, não corram, aquilo já tem problemas que chegue).

Desiquilibrar os carros é a maior imbecilidade a seguir a achar que por estas estarem "preparadas" e darem mais de 200 km/h, valem um chavo... valem uma bosta!

Segundo... Pontes "Vasco da Gama", A1's com 3 faixas ou A2's cheias de rectas com a gravidade favorável não existem em pistas à séria (excepto algo tipo Indianápolis onde levariam uma coça brutal)... até uma velhinha anda por lá com um M6 preparado a 315 à hora.

E terceiro, não ganhem juízo, ganhem conhecimentos que este vem por acréscimo. Note-se o tom indignado, não só por se acharem mesmo "talentosos", como mancharem o nome dos realmente talentosos, que não fazem disparates destes.

Reparem que isto vem de um tipo que acha que domina Murciélagos ao pequeno almoço (o Diablo era mais difícil, o Morcego com a estabilidade off é um "touro"), cujos bíceps vêm do tempo em que se engrenavam velocidades à séria em Countachs e F40's (este último que só conduzi uma vez... até aos 340 no speed-o-meter, em pista) e quase ainda nem carta tinha e já era forçado por gosto a engolir conceitos físicos de condução/movimento que o Shumacker deve agora saber de trás para a frente. Sou amante de carros e velocidade, dos verdadeiros e felizmente, ainda há alguns, peçam-lhes que sejam mentores, aprendam algo, EVOLUAM!

Para "serem" superiores, à luz da vossa triste hierarquia, só precisam de uma coisa: GUITO, e para se sentirem realmente superiores, mais uma vez no triste contexto, tenho uma novidade: não precisam matar-se! Nem estourar o guito todo em autocolantes a dizer tuning, turbo, ou o que for, numa tentativa psicológica de fazer o carro mais que o que é.

Arranjem um bom emprego, um melhor, um mais que melhor e tentem a abordagem Ferrari - Porsche - Lamborghini - Pagani - MacLaren - Koenigsegg - Bugatti - e afins, verão que ninguém aceitará o "desafio", ou se for alguém a esse nível, decerto estará muito consciente dos riscos de tal fazer em áreas públicas e proporá antes um braço-de-ferro ou uma partida de poker, se o autódromo não der para alugar.

left Mas se falta tamanho no pénis, não são turbos nem corridas a 260 km/h em latas de conserva que o vai compensar. O charme é parte do culto, e saber falar português (melhor, saber falar per se) correcto é parte do magnetismo, assim como o é recusar correr com latas e em trajectos onde o imponderável se sobrepõe por motivos óbvios aos dotes de pilotagem - e melhor, fica-se com a "gaja" na mesma, qual James Bond, embora ainda sem o Aston Martin.

"Tão génios" na arte de conduzir acham-se estes gorilas sem o cabedal, que gostaria eu de saber se algum dos "entrevistados" sabe o que é o coeficiente de atrito, deriva dos pneus (e como se calcula), transferência de peso (não "massa" como erroneamente chamam)... ângulos cónicos, inércia, densidade de ar (e como a usar), efeito de solo, Cx, força centrífuga (que não existe como é conceptualizada, é uma mistura de momento de força e inércia - força centrípeta), cone de ar (chupa?!) e afins...

Para já, e tão tótós - e que prazer em chamar-lhes isto, perdoem-me este doce pecado - a maioria deixa de merecer tal nome assim que provar educação, talento, respeito e responsabilidade - estas criaturas gastam massa a mais por cavalos a menos (ou, melhor dizendo, a mais para o chassis, e a menos para mim, tendo em conta a relação preço/resultado).

Deveriam perceber que a noite é a pior altura para "correr" - a palavra certa é "carregar no acelerador e ter fé em alguma entidade superior - (não mencionando os locais de corrida que bradam aos céus pela falta de inteligência -*duh*) e qualquer condutor A SÉRIO (piloto) o sabe, porquê?

Decerto quem o pergunta não deve candidatar-se a "street racer" para já, mas respondo com simples constatações físicas e experiência... vamos imaginar os "tótós" a correrem à noite, que deveriam estar a estudar - ou a dormir - em vez de a arriscar a treta da mecânica cara a esteróides e a preciosa vida (e a de outros):

- A 100 km/h a distância percorrida são 33 metros por segundo, aproximadamente, e com cálculos de cabeça.

- A visibilidade permitida pelos melhores faróis são cerca de 100 metros, e os "candeeiros" nas autoestradas não são suficientes para mais que cerca de 300 - a mais de 250 a visão "afunilada" impõe tal limite - é essencial conhecer o trajecto de olhos fechados e, mais importante, que este esteja livre de imponderáveis obstáculos (e de nevoeiro).

- A 100 km/h um carro artilhado precisa de cerca de 35-40m metros para se imobilizar, um normal, cerca de 50, a contar com excelentes reflexos, claro está.

- Se a velocidade duplica a distância de travagem quadriplica (a chamada curva logarítmica, progressão geométrica, etc., palavras caras para quem acha que sabe o que é um cavalo - já agora, sabem o que é? ).

- E admitindo que a lata não se despita devido a desiquilíbrios de peso e desacelaração descontrolada (sub/sobre viragem) ou má distribuição de peso (2 passageiros de pesos muito diferentes, por exemplo, uma tipa dizia "ir ao lado do namorado" nas corridas... ora que inteligência rara aumenta 50 kg à viagem numa corrida?)

- De noite, a 260 km/h - e como muitos tótós o fazem - são percorridos cerca de 80-90 metros por segundo, isto por alto, tendo em conta o erro do velocímetro, e tendo em conta que se atravessarem ar menos denso (quente) o carro vai acelerar mais (ou levantar voo, efeito da depressão/vácuo criado pela passagem de ar e que "suga" o carro), e são necessários cerca de, também por alto, mais de 300 metros para parar, na melhor das hipóteses comuns.

E fazendo a aritmética com dados biológicos:

Tempo de reacção: demora ao cérebro cerca de 0,25 segundos a constatar uma emergência, 0,5 segundos a reagir sem hesitar, e mais 0,25 para chegar a ordem ao pé para travar, ora isto é igual a, e acerto por conveniência, cerca de 1 segundo.

A adrenalina em tótós (jargão para cobardolas com mais garganta que mãozinhas) incentiva a "congelar" mais que "agir", o que piora as coisas... ou seja, o tempo de reacção passa a "tender para infinito", e isto é também uma expressão da matemática (ajuda muito estudar).

Ok, noite, 250 km/h - e temos cerca de 100 metros de visibilidade plena - com um segundo para reagir...

Significa se algo acontecer a 300 metros de distância, passam 2 segundos até se o perceber - 2 segundos para percorrer o suficiente para ver o "algo", a 100 metros. Temos 1 segundo para para decidir (limite cerebral), e lá se vão 80 metros.. A decidir bem, sobram apenas 20 metros para a reacção!... Acrescento que são necessários mais de 300 metros para travar a 260 km/h (teoricamente, quase 1 km)... Resultado? Mau resultado...

Faltariam no mínimo, assumindo travões cerâmicos e pneus ZR, cerca de 280 metros na altura do incidente, a ser necessário travar até zero - isto é, um "bang" a mais de 200 km/h, uma desaceleração superior à que o mais sofisticado dos chassis actuais não consegue resistir, uma desaceleração como bater no chão depois de cair de mais de 1 km de altura...

Já agora, a propósito, e a título de curiosidade: se uma mãe segurar o filho num carro (esquecendo a cadeira de retenção, o que é pouco sábio), um choque a menos que esta velocidade acima significaria que a mãe, a ser retida pelo cinto, tenderia a segurar o bébé... agora pergunto... conseguiria?

Um verdadeiro "piloto" sabe a resposta...

A velocidades legais, e a haver choque, nesse momento, o bébé pesaria para a mãe, no sentido de movimento do choque, umas boas centenas de quilos... ora quem segura tal peso? E siga para o pára-brisas, perdoem o morbid-mode... Pode acontecer o mesmo com o mega-amplificador para surdos montado na mala (a acrescentar peso ao carro), que num choque pode sair disparado, atravessar o carro todo (e recheio) e ir para algumas dezenas de metros à frente...

Física: o amplificador é massa muito densa, logo no momento de inércia em que fosse projectado exerceria muito mais pressão por cm quadrado, furando melhor que a melhor das brocas (ou melhor, esmagando). Já agora alguém me explica a compatibilidade da paixão pela performance impecável e o aumento desmesurado de peso e distracção com mega-amplificadores, colunas e LCDs por todo o lado? Contratórios em tudo...

Mas adiante...

Com luzes, tipo Vasco da Gama, eu aumentaria seguramente o limite de visibilidade para permitir os ditos 260 km/h ou mais, mas apenas para quem conhecer o trajecto de olhos fechados (devido ao efeito de túnel na visão a essa velocidade), e com a estrada (ponte) fechada. Mas isso não é "correr", nem mostra a habilidade do piloto, mas sim a carteira... e dependendo das condições, o cérebro.

right Nada tenho contra alguém num Aston Martin a 250 que me ultrapasse na "Vasco" pela faixa certa, e em segurança... qualquer velinha num Bugatti Veyron, sem suar uma gota, "embalaria" em instantes estes supostos "viris" imbecis nos seus Seat's ou Honda's, ou que marca for (gama barata) artilhados - leia-se que gramo os motores da Honda, no entanto.

"Enchufar" turbos e intercoolers numa lata significa apenas uma coisa: a lata voa, bem ou mal, e os "chulos" - vulgo "pseudo-preparadores" - lucram à custa da ignorância e do complexo de inferioridade por vezes tão ridículo que mete dó (alguém o chamou do "Xunga-ing = pseudo-Tuning"): se a lata anda como anda, a de série, é porque os engenheiros (à séria) assim o acharam! Andar também é parar e curvar!

A verdadeira questão é outra: quando uma "não lata xungada" voar ao lado duma "lata séria" à mesma velocidade, a "não lata, a séria" aterra quando necessário, a outra, já lata xunga de si, cinge-se a uma questão de fé e sorte, e não de habilidade, e com as probabilidades a apontarem no sentido de "continuará a voar" - i.e., no mau sentido.

Conclusão? Andar depressa e bem, sim... nada contra e tudo a favor, sem limites (excepto os da natureza), sem competir com riscos, saber parar quando se percebe estar a puxar os limites, e por vezes os do carro são inferiores aos do piloto e há que o reconhecer.

De preferência, boas viagens rápidas mas com licenças de condução desportiva e excelentes carros, muita preparação que as escolas de condução não dão (marcha-à-ré e estacionar ou meter mudanças para afogar o motor não são a minha ideia de "licença para conduzir bem").

O S2000 (Honda) ou o Evo VIII (Mitsubishi) ou ainda o Impreza (Subaru) são boas bagatelas, de série, para quem divertir-se. Seats, Citroens, Peugeots e afins tunados não puxam aqui pelo "je"...

Um CL600 AMG, um F430, um Gallardo ou um M6 eclipsa qualquer sonho de "paguei pouco e queimo tudo na estrada", e, melhor ainda, são muito mais bonitos e exclusivos (e legais), e mesmo parados, levam sempre a "gaja" pa casa... e vocês ficam a comer turbos e intercoolers... e com muito azar, chapa na estrada... Embora tenha já visto picanços absurdos entre um M6 e um Maranello, nem um nem outro são "desportivos", são GT's malta! GT's! Andam muito depressa, chegam muito depressa ao "andam muito depressa", mas não têm a agilidade de um Mini Cooper S, um Lotus Elise ou, ao mesmo nível, de um Ferrari Scuderia ou Gallardo Superleggera.

Mas picardias absurdas de todos os dias também é que não... Não há pachorra! Embora entenda a malta que perde a paciência na Auto-Estrada quando a menos de 120 algum moralista num Mercedes não deixa passar e vai mudando de fachas e travando para provocar - quem é o nabo? O doido ou o doido que não o deixa passar? Ou quando um C3 vai a borrar-se todo a 170 depois de ganhar lanço numa descida e o tipo não sai da frente nem por nada e anda para a esquerda, centro, esquerda (no centro ganha lanço com o "cone de ar" do da frente), centro, e o tipo atrás que se amanhe... que a ser eu, estou na maior, espero e não desespero, se a velocidade for igual ou superior a 120.

Portanto nada de pisar ovos, ou levar carros muito além do limite, e evitar as corridas insanes, os picanços irresponsáveis, as porradas, porque um há-de cometer um erro e o mais sábio, a sê-lo, percebe-o logo, de antemão, e evita, mesmo sendo por vezes difícil, e já com a adrenalina a correr - há muitos imbecis, e leia-se que também há muitos mega-imbecis que nunca passaram dos 110 a fazerem mega-imbecilidades que fazem estas "street-racings" parecerem seguras.

O carro não é uma armadura nem uma arma. É um símbolo de status e um meio de transporte, como símbolo que é, todos querem que "o seu" seja bem visto, mas não comparem Rolex's com cópias "made in China", nem o queiram fazer na estrada, pior ainda, não comparem cópias com cópias.

As emoções geram erros, os erros geram erros crassos, os erros crassos geram erros irreparáveis. A acontecer, proponho que meçam o tamanho do pénis e deixem os veículos para quem sabe andar desembaraçado - sem pisar ovos nem egos - ao invés de os enfeitarem com tudo e mais alguma coisa que claramente diz "o meu coiso é pequeno".

O carro é uma fortaleza falsa, e o outro carro não é inimigo, é outra fortaleza falsa, o imbecil que se mete com um imbecil tem que estar preparado para pagar o preço da imbecilidade, o excesso de velocidade só é excesso quando é excessivo, não o é por se ir a 130 numa estrada vazia... em duas palavras: BOM SENSO. Toda uma vida (ou mais) pode mudar em menos de um instante.

Se querem andar depressa, e terei muito gosto em defender quem o faça BEM, façam-no em "não latas" e provem que sabem conduzir, isto é, que entendem os limites físicos, os sociais e acima de tudo, que os sabem comunicar (falar português correcto, neste caso concreto). Se querem andar devagar, deixem espaço quando possível para quem vai mais depressa, a "esquerda" não é para passear.

Por outras palavras, não é "o quanto depressa andas" que define o bom piloto mas o "como o fazes e em que lata o fazes". Pois 100 km/h numa bicicleta numa descida é tão heróico como 260 km/h num Panda na "Vasco"... e com o mesmo provável desfeixo: ninguém respeita um louco, ninguém admira um complexado, fogem ou aturam hipocritamente. Melhor faz o tipo que sobe a ravina de bicla a 40 km/h, ou insulta a Fiat por o Panda por não ter chassis para 260 Km/h... e muda para um S2000 ou, por via das dúvidas, e por mais estilo, segurança e potência, um magnífico e prático Gallardo.

Tenho dito. Boas viagens, "rápidas" q.b., e sempre sãs - e rápido é "relativó-sábio": 70 Km/h nas curvas dos Alpes, ou 350 nas auto-estradas alemãs... e zero nas passadeiras de escolas em hora de ponta..

Aliás, ainda tenho mais para dizer: o problema aqui nem é a velocidade per se (ou não só), mas a competição irracional... o "picanço". Competir com justiça para avaliar o piloto seria dois carros iguais, ou se para avaliar dois carros, com o mesmo piloto! Uma coisa é um tipo descontraído num 911 a 200 km/h na A1, outra são três, um Corsa, um Punto e um Clio com uns 1000 cc a competir a mais de 120 desesperadamente tentando chegar aos 160 nas 3 faixas a descer da A5... ou um velhote num Mercedes a 90 aos zigue-zagues a travar na AE para o coitado que vinha atrás não passar e ter "calma"... pois pois... deves acalmar deves!

Autor

© Alvaro M. Rocha - Todos os direitos reservados.

(Reproduzido com autorização. Original em http://www.alvaromrocha.com )


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