Produtos estruturados

Da Thinkfn
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Produtos estruturados são produtos financeiros cujo rendimento e risco resultam da combinação das características de produtos diferentes, nomeadamente da combinação de um perfil de risco de uma obrigação com a possibilidade de retorno de uma acção ou conjunto de acções.

Normalmente, estes produtos destinam-se a possibilitar propor aos clientes o investir/apostar num determinado tema, sem que o risco de perda de capital exista. Assim, a maior parte destes produtos apresenta-se como produtos de capital garantido com o retorno indexado de alguma forma à evolução de um cabaz de acções, índices, commodities, etc. Por vezes, em vez de capital garantido, o que se garante é uma rendibilidade mínima, baixa.

Como são construídos?

A estrutura base destes produtos, que parecem complexos e por vezes difíceis de entender, é muito simples. Divide-se entre a componente que proporciona a garantia de capital ou de rendibilidade mínima, e a componente de onde o emissor retira a sua margem e que também proporciona as características de remuneração variável que separam os vários produtos. Assim, para um investimento de X durante Y anos por parte do subscritor

Componente de garantia de capital / rendibilidade mínima

Esta componente visa garantir que no final do investimento o subscritor recebe pelo menos o X que investiu (no caso de uma garantia de capital) ou X x (1 + imínimo) no caso de uma garantia de rendibilidade mínima. Isto é conseguido simplesmente fazendo uma aplicação financeira sem risco, hoje, que produza daqui a Y anos o X ou X x (1+imínimo). O montante que tem que ser investido hoje (que vamos chamar Z) é simplesmente (para uma taxa sem risco de i):

Z = X / (1+i)^Y

Isto no caso de uma garantia de capital X ou;

Z = X x (1+imínimo) / (1+i)^Y

No caso de uma garantia de rendibilidade mínima.

O montante Z é assim apurado, porque ao longo do tempo esta aplicação vai capitalizar juros, até no final do período de investimento, Z ter atingido ou X, ou X x (1+imínimo).

Assim, resta apenas produzir a outra componente do produto estruturado, que são as suas características de rendimento.

Componente de remuneração variável

Como vimos, do montante investido pelo subscritor, X, Z são investidos hoje numa componente sem risco. Porém, Z é menor que X.

A diferença (Z-X) vai servir para 3 coisas:

  1. Para produzir a componente de remuneração variável
  2. Para pagar eventuais custos de transacções, etc
  3. Para pagar a comissão (ganho) do emissor.

A componente de remuneração variável do produto é produzida simplesmente comprando opções sobre o subjacente do produto estruturado. Se estas opções não existirem, embora mais complicado, o comportamento destas opções é aproximado via delta hedging. A desvantagem aqui é que dessa forma resta algum risco para o emissor, precisamente onde o delta hedging falha, como em gaps, etc. Mas como estamos normalmente a falar de índices ou baskets (conjuntos) de acções ou commodities, o risco de um gap em tais agregados é muito menor. Em todo o caso o emissor pode sempre passar este risco para outro player comprando opções “over the counter” ou seja, especificamente desenhadas para o fim em causa. Obviamente o preço que pagará incluirá uma componente para pagar esse risco, mas assim o emissor passa a não ter qualquer risco com a operação montada.

Compradas as opções, está o produto completamente estruturado. A diferença entre Z – X – custo das opções será o ganho ou margem do emissor, servindo ainda para cobrir quaisquer eventuais custos (prospectos, transacções, etc).

Qual o risco para o subscritor?

Os produtos estruturados são geralmente emitidos na forma de obrigações. O risco para o subscritor é apenas o risco de crédito do emissor.

Como podem estes produtos ter liquidez?

Uma das preocupações dos subscritores deste tipo de produtos, é, visto que normalmente se tratam de produtos relativamente longos em termos de prazo de investimento (de 1 a vários anos), como é que estes produtos podem ter liquidez durante esse prazo. Bem, a liquidez é possível (embora sem garantia de capital ou rendibilidade mínima) porque podemos sempre desfazer as operações que deram origem ao produto.

Tanto a componente de garantia de capital/rendibilidade mínima quanto a componente de remuneração variável possuem um valor em cada momento do tempo, e o agregado dos valores das duas componentes, deduzido eventualmente de uma qualquer comissão do emissor, pode sempre ser disponibilizado ao subscritor sem prejuízo para os restantes subscritores do produto, embora essa disponibilidade possa ser limitada pelo emissor do produto, por exemplo devido a questões operacionais, ou à forma como estruturou o produto fazendo recurso de outras entidades que podem ou não dar-lhe liquidez a ele. Uma outra forma de proporcionar liquidez a estes produtos, hoje pouco usada, seria simplesmente cotá-los em bolsa.

Replicação por parte de particulares

Para um particular construir um produto estruturado por si próprio, só tem que imitar os dois passos:

  1. Criar uma componente de garantia de capital, e fazer com ela uma aplicação sem risco pelo prazo do produto pretendido;
  2. Com o que sobra da garantia de capital para o montante do investimento, comprar opções (normalmente, calls) sobre os subjacentes que pretente que influenciem o rendimento do investimento.

Os problemas podem surgir, face a uma alternativa institucional, quer na aplicação financeira, se o particular não conseguir obter condições de aplicação vantajosas, quer na componente de remuneração variável, se não estiverem disponíveis as opções sobre o subjacente pretendido. Será difícil ao particular tanto implementar uma estratégia de delta hedging, como obter cotações para derivados OTC de uma instituição.

A finalidade dos Caps / Limites superiores

Não raras vezes, os produtos estruturados possuem um limite superior para a rendibilidade que proporcionam. São os chamados “Caps”.

Porque é que isto acontece? A razão é simples. Quando um subscritor acede a que exista uma rendibilidade máxima, isso equivale à possibilidade do emissor que estrutura o produto vender uma Cap (na prática, uma callout of the Money”) sobre o mesmo subjacente no qual vai comprar os derivados que proporcionam a remuneração variável do produto. Ora, isso faz com que esses derivados comprados fiquem, na prática, mais baratos (o seu custo para o produto passa a ser o custo das Calls compradas – custo da Cap/Call vendida). Sobra assim maior margem para conseguir estruturar o produto, para comissões, etc.