Portugal em dificuldades

Da Thinkfn

Gostaria de propor uma nova "tese" para discussão: Portugal está mal, e tudo aponta para que continue a piorar, podendo chegar a uma situação "tipo Argentina": Insolvência das finanças públicas, forte contracção do conjunto da economia, perda das poupanças detidas em Portugal, desemprego próximo dos 20%, redução generalizada do poder de compra dos cidadãos, convulsões sociais importantes.


Em resumo, o meu ponto de vista em relação ao nosso país é que o "decaimento" económico e orçamental não tem solução, a menos que se trate de um verdadeiro milagre.

Acho que:

1) A competitividade internacional da nossa economia vai continuar a piorar.

2) O saldo do investimento estrangeiro em Portugal (que neste momento já é nulo) vai continuar a diminuir, tornando-se a partir de agora negativo.

3) O deficit público vai continuar a rondar os 3% do PIB ao ano, ou pior (com picos negativos como o dos últimos anos, em que atinge valores reais da ordem dos 5% do PIB e picos "positivos" a rondar os 3% reais, em fases especialmente favoráveis da economia).

4) A produção riqueza nacional vai continuar a crescer abaixo da europeia, e a europeia vai continuar a crescer abaixo da mundial (e, por exemplo, da dos USA), até que a próxima crise económica nos atire para uma nova (e mais severa) recessão.

5) Mais cedo ou mais tarde o estado português deixará de conseguir pagar o serviço da dívida pública nacional.


Na realidade acho que depois da destruição socialista/guterrista da competitividade nacional (que, em boa verdade, se deu a partir de uma base de partida já muito fraca), os recentes governos (apesar de eleitos precisamente devido à tomada de consciência nacional de que as coisas estavam num rumo insustentável) não tem conseguido resolver nenhum problema e parecem seguir um rumo que nunca conduzirá a isso (tendo até vindo a agravar, sob alguns aspectos, a situação da economia nacional).

Perdida a actual oportunidade (em termos de capacidade nacional para aceitar sacrifícios) dificilmente será o governo seguinte que irá resolver os problemas com que nos deparamos, que começam a parecer endémicos (e, infelizmente, irresolúveis).


Esta "tese", que em que já acredito desde há alguns anos, tem-se vindo a reforçar e a ganhar adeptos ultimamente.

Várias vozes tem começado a assumir este tipo de realidade nacional extremamente negra (por exemplo a voz insuspeita de Cavaco Silva), mas acho que a tomada de consciência ainda "vai no adro".

No meu caso, os problemas do nosso país eram algo que via como um rumo negativo potencial, ao qual era preciso estar atento, mas que ainda parecia corrigível por um esforço nacional. Mas ultimamente tenho começado a crer que a oportunidade de corrigir esse rumo está a acabar de passar sem que nada seja feito (e isto se não passou já definitivamente).


A título de ilustração deixo dois links para notícias de 29/11/2004, do Jornal de Negócios, que penso serem sintomáticas:

A primeira sobre a questão do fundo pensões da CGD:

http://www.negocios.pt/default.asp?CpContentId=252132

A segunda sobre o OE para 2005:

http://www.negocios.pt/default.asp?CpContentId=252134

(Naturalmente, as notícias que apontam no sentido desta “tese” são extremamente frequentes e surgem todos os dias. Estas duas são apenas uma amostra concentrada num quarto de hora do princípio da tarde de uma Segunda-Feira qualquer...)



Nota:

Este artigo foi escrito o­ntem, dia 29 de Novembro, antes do anúncio de dissolução do parlamento.

Essa novidade não altera em nada o meu ponto de vista em relação a este tema. Em qualquer caso a opinião aquí expressa é apenas minha, não responsabilizando o Thinkfn.


Autor

Ming, em 30/11/2004


Comentários

Para comentar e discutir esta ideia, existe no fórum de Bolsa um tópico.

Uma interessante discussão conexa, que poderá ser iniciada no mesmo tópico, relaciona-se com as implicações desta tese para as decisões de investimento. Pela minha parte, acreditar nesta tese tem-me levado a reduzir significativamente os meus investimentos em acções nacionais, ao longo do último mês…


Disclaimer

Este comentário é um artigo de opinião e nunca uma recomendação de compra ou venda. Alerta-se ainda que a compra ou venda é da responsabilidade do investidor bem como o lucro ou perda daí existente. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos neste artigo. Em caso de dúvidas, deverá o investidor procurar um intermediário financeiro, a Euronext, ou a CMVM.