O Pico do Petróleo

Da Thinkfn

A Tese do “Pico do Petróleo” é relativamente simples. Quando um poço de petróleo começa a sua produção, esta tende a atingir o seu máximo, e daí para a frente segue uma curva de quebra de produção relativamente estável, o que se compreende pela perda de pressão do campo petrolífero de o­nde se extrai.

Isto, por sua vez, também é verdade para o agregado dos campos petrolíferos, pelo que existe um ponto em que a perda de produção dos poços já abertos supera a produção dos novos poços. Ora, nesse ponto o agregado da produção começa a cair.

A primeira expressão deste conceito deu-se no final dos anos 50, quando o Dr. Marion King Hubbert previu o pico da produção dos EUA para 1971, tendo tal acontecido tal como ele previu.

Obviamente, a sua lógica aplicada à produção mundial é também inevitável, ou seja, o pico de produção mundial também será atingido em algum ano vindouro. Estimativas desde 2006 a 2012 são comuns.

A produção, a partir dessa altura, tenderá a descer lentamente. Mas como sabemos, o consumo tem mantido uma trajectória ascentente imparável, logo existirá um ponto o­nde o consumo ultrapassará a produção, e é fácil de ver que nesse ponto ou existem alternativas, ou o preço do petróleo sobe até se dar um fenómeno de “crowding out” de alguns consumidores, que deixam pura e simplesmente de consumir por não poderem pagar/não ser economicamente viável usar petróleo.

Esta Tese, praticamente indesmentível, também tem nos últimos tempos contribuído para a subida imparável do preço do Crude. Além disso, como vimos a O Debaseamento da Moeda Fiduciária e a A Procura Chinesa reforçam esta.

Como factores mitigantes temos alguns, como seja o desenvolvimento de novas energias tais como o Hidrogénio para substituição dos combustíveis derivados de petróleo (as próximas gerações de automóveis já começarão a ser capazes de o usar). O potencial do Nuclear para substituir o Petróleo na geração de energia e Hidrogénio. E o facto de que a maior parte das alternativas energéticas (Nuclear, Carvão, Hidro, Gás Natural, Vento, Solar, etc, etc) se vão tornando economicamente competitivas com o Petróleo à medida que este vai subindo.

Claro, como vimos na Teoria da reflexividade de Soros, existe no seguir desta Tese (e das outras duas, sinergísticas), o potencial para um reforço por um mecanismo de feedback, em que os consumidores mantêm cada vez menores stocks de crude e produtos derivados por acharem o crude caro, e isso é visto pelo mercado como um sinal de que o crude está a faltar, levando a que este suba ainda mais. Isto potencia uma bolha a curto prazo, até que os stocks deixem de cair por poderem implicar dificuldades operacionais (ponto a que podemos ter chegado nestas últimas semanas).

A Longo Prazo, claro, não há como esta tese não estar correcta, mesmo levando em conta que os campos petrolíferos provavelmente se voltam a “re-encher”, se Thomas Gold estiver correcto na sua Teoria da Origem do Petróleo. Ou seja, a longo prazo terão que existir alternativas ao petróleo. Na minha opinião, a ideal é o Nuclear com geração de Hidrogénio nas alturas de menor procura de geração “base” (à noite, por exemplo).

Desta tese resulta a curto prazo ser perigoso especular contra a subida do petróleo a menos que se acredite numa bolha temporária. E resulta a longo prazo valer a pena procurar empresas que possam vir a beneficiar da transição para outros tipos de energia e combustíveis. Há que ter o cuidado, porém, de saber que esta tese e as outras duas (do debaseamento da Moeda e da Procura Chinesa) já estão a funcionar há algum tempo (pelo menos 1-2 anos), pelo que muitas das empresas que tenderiamos a escolher por causa destas teses já estão bastante caras, ou estão a beneficiar de subidas muito fortes das matérias que vendem, subidas essas que podem constituir bolhas temporárias, portando-se depois essas empresas como cíclicas (ou seja, transaccionando a múltiplos deceptivamente baixos, apenas porque se aproxima uma implosão dos preços).


Autor

Incognitus, em 12/10/2004


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