O Capital

Da Thinkfn

O Capital (em alemão: Das Kapital) é um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx como crítica ao capitalismo (crítica da economia política). Muitos consideram essa obra o marco do pensamento socialista marxista. Nesta obra existem muitos conceitos econômicos complexos, como mais valia,capital constante e capital variável, uma análise sobre o salário; sobre a acumulação primitiva, resumindo, sobre todos os aspectos do modo de produção capitalista, incluindo uma crítica exemplar sobre a teoria do valor-trabalho de Adam Smith e de outros assuntos dos economistas clássicos.

Observação quanto ao conteúdo

Quem procura sobre a teoria económica marxista consulta o livro O Capital. Porém como seu conteúdo é volumoso e abrangente, a subsecção quanto ao conteúdo foi separada por livros, e alguns itens contêm apenas sinopse para as hiperligações que levam aos artigos como Força de trabalho, Teoria da Abstinência, Acumulação primitiva, etc. Ainda, é conveniente consultar a obra anterior que também contém parte do conteúdo que seria aglutinado pelo autor: manuscritos de 1844, Miséria da Filosofia (contém uma tabela comparando a obra económica de Proudhon com a de Marx), Contribuição para a Crítica da Economia Política, Grundrisse. Há também resumos de O Capital preparado por outros, como a de Carlo Cafiero. Mas o mais recomendado é a leitura integral da obra (assim também recomendaram Cafiero, Julian Borchardt, Roman Rosdolsky, Rosa Luxemburgo, etc). Na empreitada de ler a obra integral muitos acabam desistindo no caminho por ser uma obra densa e difícil.

Preparo e livros económicos anteriores

Marx demorou muito tempo até chegar à sua obra considerada máxima. Em 1844 escreveu manuscritos económico-filosóficos de 1844. Cada vez mais preocupado com os problemas económicos, escreve e publica Miséria da Filosofia em 1847, uma resposta preocupada com a objectividade dessa ciência (a Economia Política) ao livro Sistema das Contradições Económicas ou Filosofia da Miséria de Proudhon (que questionava a economia mas pelas inquietudes filosóficas do famoso autor anarquista).

Em 1859 publicou Contribuição para a Crítica da Economia Política, que continha dois capítulos: A mercadoria e A moeda, o capital seria uma continuação desse livro, mas Marx desentendeu-se com seu editor.

Os seus textos escritos em cadernos para rascunhar e ordenar o pensamento económico ficaram conhecidos como as Grundrisse. O pequeno Formações económicas pré-capitalistas é uma das obras derivadas desse volumoso trabalho que se desdobraria (principalmente, mas não somente) nos Livros 1 a 3 de O Capital onde Marx iria expor sua teoria e no Livro 4, que seria a reunião de teorias dos outros autores comentados.

Entre as várias opções de caminhos para expor suas ideias, Marx pensou publicar antes dos outros Livros o que seria o Livro 4 (para expor as falhas dos outros autores e daí mostrar as suas), em unir o conteúdo do Livro 4 ao Livro 1 (mas ficaria então demasiado grande), mas por fim decidiu expor toda sua teoria primeiro para depois mostrar a de outros autores, como forma de satisfazer o público que queria novidades no campo da economia.

A vontade de escrever um livro "um todo artístico" levou a refinar bastante o texto, acrescentando referências e levou à exclusão do que seria o capítulo 6 do plano inicial do Livro 1.

Infelizmente o autor não pôde continuar a cuidar da publicação dos seus Livros.

A publicação de "O Capital" em francês e em inglês

Sendo o Livro 1 o único que Marx lançou em vida, também foi o único que ganhou revisões do próprio autor e alguns acréscimos ou modificações, como o que ocorreu para seu lançamento na França. O que diferencia as edições em francês e inglês é que elas têm 33 capítulos, com o mesmo conteúdo da edição original, alemã. Isso devido às subdivisões dos capítulos 4 e 24, cujas secções se transformaram em capítulos. Provavelmente isso decorre de Marx ter ouvido a sugestão do cidadão Maurice La Châtre de dividir a obra em fascículos para torná-lo mais acessível aos trabalhadores. Tal procedimento de publicação permitiu que Marx fizesse uma revisão nos fascículos de forma que fez pequenas modificações à edição. Em 1872, numa carta a Danielson, o tradutor russo de O Capital, Marx afirmava que seria mais fácil traduzir do francês para o inglês e outras línguas românticas.

Para o preparo da 4° edição revisada Alemã de 1890, considerada a definitiva, Engels levou em conta a edição francesa e as notas manuscritas encontrados nos exemplares pessoais de Marx.

A edição em inglês para Estados Unidos lançada pela Editora Penguin no começo do século XX já está integralmente em domínio público.

Em 1973 J. Teixeira Martins e Vital Moreira, professores de Lisboa, fizeram uma tradução da edição francesa para português.

A publicação de "O Capital" na Rússia

Em "a tragédia de um povo", Orlando Figes escreve:

"Em Março de 1872 chegava à secretária do censor russo um volume pesado sobre economia política, escrito em alemão. O autor era conhecido pelas suas teorias socialistas e todos os seus livros anteriores tinham sido proibidos. O editor não tinha qualquer razão para esperar que este livro tivesse um destino diferente. Tratava-se de uma crítica sem compromissos ao moderno sistema fabril e apesar de a lei russa da censura ter sido liberalizada, permanecia ainda uma clara proibição para todas as obras que abordassem as "nocivas doutrinas do socialismo e comunismo" ou que pudessem "atiçar a antagonia entre uma classe ou outra". As novas leis (de censura) eram suficientemente rígidas para proibir livros tão perigosos como o "Ética" de Espinoza, o Leviathan de Hobbes, o "Ensaio sobre a história geral" de Voltaire...

No entanto, acharam eles que este magnum opus alemão - 674 páginas de compacta análise estatística - era demasiado difícil para poder ser considerado uma ameaça ao Estado. "Pode ser afirmado com segurança", concluiu o primeiro dos censores, "que muito poucos na Rússia o vão ler e menos ainda o irão compreender". E o segundo censor acrescentou que para além disso, o autor ataca o sistema de fabricação britânico, e que a sua crítica não é aplicável à Rússia, onde a "exploração capitalista" de que ele fala não é conhecida. Nenhum dos dois censores achou necessário impedir a publicação desta obra "estritamente científica".

E foi assim que o "Das Kapital" foi introduzido na Rússia. Foi a primeira publicação deste livro no estrangeiro, 5 anos da primeira edição, em Hamburgo, e 15 anos antes da primeira edição em inglês." ...Os censores em breve reconheceram o seu erro. 10 meses depois, vingaram-se em Nikolai Poljakov, o primeiro editor russo de Marx, ... ao trazê-lo a tribunal e forçando-o a dissolver a sua editora.

A publicação de "O Capital" no Brasil

No Brasil houve 2 traduções dos Livros Completos: a de Reginaldo Sant´Anna (anos 1960, atualmente relançada pela Editora Civilização Brasileira) e a da Equipe de Paul Singer (anos 1980) (esta última tradução faz parte da colecção "Os Economistas" da Abril Cultural). O Livro 4 foi traduzido apenas por Sant´Anna.

As traduções da frase Segui il tuo corso, e lascia dir le genti! (frase com que Marx termina o prefácio da 1° edição do Livro1) são:

Segue teu rumo e não te importes com o que os outros digam! - Sant´Anna; Segue teu curso e deixa a Gentalha falar - Singer

Essa diferença mostra como o linguajar pode mudar e consequentemente a interpretação dos marxistas e até seu temperamento (pois há diferença entre chamar "os outros" de "gentalha").

Além desses tradutores, houve tradução por outros de pedaços ou alguns capítulos soltos, lançadas não como partes do Livro O Capital, mas como livros próprios. Um exemplo é Marx e Engels - Textos da editora Edições Sociais, traduzindo a partir do espanhol alguns prefácios, posfácios e capítulos de O Capital, A mercadoria da editora Ática que na verdade se trata do 1° capítulo do Livro 1 de O capital acrescido de notas de Jorge Grespan (que devem ajudar, pois segundo o próprio Marx, o primeiro capítulo é o mais difícil). E A origem do Capital, da Editora Centauro, que mostra os capítulos "A chamada Acumulação primitiva" e "Teoria Moderna da Colonização" (os capítulos finais do Livro 1, que segundo Engels O estilo da parte final era, por isso, mais vivo, saído de um jacto.... A Global Editora, através da colecção Base 5, lançou Teoria da Mais-Valia: Os Fisiocratas que é um pequeno livro que reúne num único volume trechos do Livro 4 de Karl Marx sobre a Fisiocracia e Reflexões acerca da formação e distribuição de riquezas de Turgot.

O Capital

Livro 1 - o processo de produção do capital, 1867

Único dos Livros lançado em vida por Marx e que por isso se beneficiou de refinamento de estilo, melhorias entre edições, acréscimos de posfácios do próprio autor e lançamentos das versões Alemã, Inglesa, Russa e Francesa (levemente distintas, apesar da 4° edição Alemã 1893 ser considerada a versão definitiva devido às correcções de Engels e Eleanor Marx e por isso comumente usadas para a tradução para outras línguas).

Livro 2 - o processo de circulação do capital, 1885

Publicado após a morte de Marx, ficando a edição a cargo de Engels. A diferença no estilo dos Livros 2° e 3° em relação ao 1° fazem com que alguns aleguem sua escrita a Engels, . Embora os Livros 2 e 3 tenham sido dedicados à esposa de Marx, Jenny, cogitou-se dedica-los a Darwin. Engels, no túmulo de Marx, disse "Darwin mostrou a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, e Marx a da natureza humana".

Livro 3 - o processo global da produção capitalista, 1894

Com a publicação desse 3° Volume Engels termina a tarefa de tornar público a teoria económica de Marx ao conjunto do sistema capitalista. Em algumas partes ele relata que teve de preencher as lacunas como um co-autor, mas que identificou os tais acréscimos para que não houvesse dúvidas quanto a o que Marx queria dizer. Porém críticos disseram haverem problemas e lacunas, o que ainda hoje é tema de debates e uma das maiores lamentações quanto ao fato de o autor ter morrido antes da conclusão de sua obra máxima.

O problema mais comummente apontado é "o problema da transformação" (ver explicação resumida na ligação externa que leva ao texto de Callinicos).

Rosa Luxemburgo foi uma das autoras que admiraram o Livro 3 e tentou preencher algumas das lacunas de O capital no seu livro "Acumulação do Capital"

Livro 4 - Teorias da mais valia, 1905

Karl Kautsky, após morte de Engels, e já no século XX, publica o 4° Livro, que são os comentários de Marx a outros autores de Economia política. O Livro 4 é o menos conhecido justamente por ter sido publicado após a explanação da teoria económica marxista por Marx e Engels. Acrescente a isso o agravante de Kautsky ter optado por publicar invertendo o título e subtítulo: "Teorias da Mais-Valia - A história crítica do pensamento econômico (Livro 4 de O capital)". Por causa disso, mesmo na colecção de traduções de Sant´Anna recebeu numeração do volume em separado (os Livros 1 a 3 são divididos em volumes numerados de I a VI, e Teorias da Mais-Valia começam do Volume I ao III, quando poderiam ter sido numerados como os volumes VII, VIII e IX de O Capital).

Esse material é de leitura interessante por incluir considerações sobre outras teorias do valor e de fontes que podem ter sido inspiração para as críticas dos antagonismos de classe (desde os que negavam o antagonismo, os que reconheciam mas negavam exploração de classe, os que ficavam ao lado dos oprimidos, e até mesmo os que defendiam a opressão sem dissimular), entre outras considerações não abordadas nos demais livros (como a questão do trabalho produtivo e improdutivo).

Capítulo VI inédito de O Capital

Excluído por Marx do plano de publicar junto com o Livro 1, é estudado actualmente por conter notas de transição do Livro 1 e Livro 2 (depois de a mercadoria ser produzida, ela tem de circular). A numeração do Capítulo 6, excluído, mostra que a exclusão se deu antes da publicação, já que ao longo de edições a numeração e divisão do Livro em partes foi bastante mudada, provavelmente para não cansar o leitor com capítulos demasiadamente longos, um bom exemplo é o capítulo 1 da 1° edição que se transoformou em parte 1, subdividido em 3 capítulos.

Resumos e obras derivadas

Resumos

  • Carlo Cafiero, Compendio de O capital
  • Paul Lafargue, O Capital - Extratos
  • Julian Borchardt, O Capital - resumo dos 3 livros

Obras derivadas

Banda desenhada

  • K. Ploeckinger e G. Wolfram, O Capital em Quadrinhos

K. Ploeckinger e G. Wolfram lançaram "O Capital em Quadrinhos", banda desenhada de 78 páginas com prefácio de Lúcio Colletti, intelectual marxista italiano. No Brasil foi lançado pela editora Global tendo suas 3 edições na década de 80. Curiosamente, trata-se de banda desenhada sui generis pois foram impressos em tinta verde, e cada quadrinho (e não página) era numerada, além dos desenhos serem muito peculiares num estilo infantil, com muitos rabiscos.

  • Max e Mir, O Capital em Quadrinhos

A dupla Max e Mir pegou o trabalho de Ploeckinger e Wolfram e fez melhorias em termos de quadrinhos tais como desenhos mais claros e alguns exemplos mais bem humorados, a impressão em tinta preta, numeração apenas em cada página, tornando o roteiro mais fácil de entender.

Curiosamente numa cena em que um operário está numa cama com sua esposa, na obra de Ploeckinger e Wolfram, o casal está com roupas, e na de Max e Mir eles estão nus. Foi lançado no Brasil pela Proposta Editorial, 66 páginas

  • David Smith e Phil Evans, Marx's Kapital for Beginners

Foi lançado nos Estados Unidos na década de 80 pela Pantheon Books, 191 páginas

  • Eduardo del Rio (Rius), Conheça Marx

Lançado no Brasil na década de 80 pela Proposta Editorial, fazia parte da coleção "Conheça", quadrinhos / banda desenhada da qual fizeram parte "Conheça Einstein", "Conheça Freud", etc.

Conteúdo do Livro 1

A compra e venda da força de trabalho: origem da mais-valia

Após analisar a mercadoria, era necessário entender a compra e venda da força de trabalho encarada como mercadoria. Por "força de trabalho" e não simplesmente "trabalho" foi possível resolver as contradições nas fórmulas de Adam Smith e David Ricardo.

Entesourador x capitalista

O capitalista, diferente do entesourador, não pode converter todo seu ganho para luxo pessoal, ele tem de investir na sua fonte de riqueza, que é a indústria. Enquanto o entesourador prefere guardar, o capitalista prefere investir. O capitalista torna-se a personificação da sede de riqueza. E no conjunto da sociedade, enquanto nos modos de produção anteriores era mais fácil conseguir a saciedade, até por haver um limite das riquezas existentes, no sistema capitalista essa saciedade não existe e se quer cada vez mais expandir as indústrias. Se nos modos de produção anteriores chega-se a saciedade se hipoteticamente um sultão consegue dominar e comprar todas as coisas, no capitalismo a saciedade por expansão não chega nem com o monopólio.

Teoria da Abstinência

Segundo essa teoria de Sénior, o capitalista praticava a abstinência pelo bem da empresa. e portanto era mais virtuoso que os empregados. E assim acumulava o seu capital.

Acumulação primitiva

Factores históricos atípicos do capitalismo que favoreceram os capitalistas e ajudaram no estabelecimento do capitalismo.

Conteúdo Livro 4

Reposição de máquinas (Capital constante)

No Livro 4 existe a secção 10 dentro do cap III: "Pesquisar como é possível ao lucro e salário anuais comprarem as mercadorias anuais que, além de lucro e salário, contém capital constante".

"É claro que o problema da reprodução do capital constante se enquadra no estudo do processo de reprodução ou de circulação do capital, mas isso não impede de se tratar aqui do que é essencial." (A circulação é assunto do Livro 2 e a reprodução, do Livro 3)

Embora muitos se contentem com a explicação da acumulação primitiva e da extrações de mais-valia (assuntos do Livro 1) para a explicação da continuidade dos negócios do capitalista, ela encontra problemas: a acumulação primitiva explica a compra da 1° máquina pelo capitalista mas não explica a reposição da maquinaria. Já a mais-valia explica a expansão dos negócios, a compra de mais máquinas ou máquina maior de modelo melhor, mas não a reposição da máquina já existente do mesmo modelo que eventualmente precise ser reposta. Se é preciso explorar o trabalhador para algo que inevitavelmente acontecerá, como a quebra da máquina velha, fica impossível de se alcançar o comunismo sem exploração.

"...de seu trabalho excedente - que forma o lucro - parte é fundo de consumo do capitalista, e parte se transforma em capital adicional. Mas não é com esse trabalho excedente ou com o lucro que o capitalista substitui o capital já gasto em sua própria produção. Se fosse assim, a mais-valia não seria fundo para formar novo capital e sim para manter o velho." (Livro 4, cap III seção10- página 87 da tradução de Sant´Anna)

É um erro pensar que o $ para a maquina vem apenas da produção de mercadorias e do excedente chamado mais-valia: trabalho descontado o salário (assunto do Livro1), pois isso justificaria o capitalista (ou outro que comanda e extrai a mais-valia) e fomenta a Teoria da Abstinência, que diz que o capitalista repõe a máquina de seu próprio bolso (bolso aqui entendido como seu património do âmbito privado e individual, para seu consumo e da sua família, separado do caixa da empresa). Como o capitalista é dono do processo inteiro, tem-se uma ilusão de óptica de que ele tira do próprio bolso.

Então é necessário entender da onde vem o $$ que possibilita essa reposição. Como se calcula o valor da máquina? Ela desgasta-se de tempos em tempos, usa combustível, etc. Então a gente vê o quanto ela conseguiu produzir em mercadorias, e dividimos por estas. Assim, o lote total da mercadoria contém: o salario, o lucro, o custo das matérias-primas e custo de máquina. Se ela quebrou após produzir mil latas de tomate, o valor da máquina vale essas mil latas (embora infelizmente não se saiba com precisão quando uma máquina quebrará, e no caso de máquinas novas, não se tem ainda nem uma média). O lote é dividido entre vários consumidores.

E quem são os consumidores? Os trabalhadores e capitalistas. O problema é que mesmo para um produto para todos, como uma lata de tomate, não se consegue vender o suficiente para cobrir os custos da maquina! Isso porque mesmo somando o salário e lucro, se compra uma parte do lote e não o lote inteiro.

Surge uma pista: a de que poderiam os outros trabalhadores e capitalistas produtores, de digamos latas de azeitona e de milho comprarem as latas de tomate. Ou seja, esferas de produção B e C comprarem de A. Mas Marx mostra que a pista é falsa: Pois então quem vai comprar de B e C? Talvez as pessoas de outras esferas como D, E ,F, G ... e ainda não se resolveu o problema, que aumenta cada vez mais, pois supondo que G compre de todos, alguém tem de pagar ao G, segundo cálculos de Marx, mercadorias caras com valor de 972 horas de trabalho. Os produtores de latas de azeitona e milho tiveram de gastar todo o $ para ajudarem a comprarem as latas de tomate e ficaram sem $ para comprar seus próprios produtos, dependendo de D, E, etc. E os de latas de tomate gastaram todo o $ no próprio produto.

OBS: Isso não é nada saudável. É melhor cada um comprar coisas diferentes, A comprar um pouco de B e C, B de A e C = quem faz lata de tomate comprar milho e azeitona e assim temos um comércio mais saudável. Pensando bem, não é necessário gastar todo o salário + lucro no próprio produto, pode-se gastar noutros:

  1. Se todos gastarem em produtos variados, consome-se um pouco de cada, mas sobra um enorme stock de cada produto
  2. Se resolverem comprar um produto só, fica sobra o stock dos outros produtos, e o montante em valor de stock é mesma coisa. É o mesmo se depois do pessoal de A, B e C comprarem todo o stock de A, se queixarem de enjoarem de A e irem ao armazém de B e C e trocarem (sem compra e venda) por latas de outros produtos.

O problema permanece igual, faltam consumidores, ou $ para esses consumidores. Então ao invés de B e C, entramos no interior da produção de A, para chegar ao seu antecessor: quem vendeu as máquinas de fazer enlatados, ou então quem forneceu pregos, chapas para o funcionamento da fábrica de A (talvez pudéssemos denominar esses sectores de -A, -B). Os trabalhadores e o dono da fabrica de máquina ganharam salário e lucro e podem gastar nas latas de tomate, e isso, (como vimos na OBS), é o mesmo que se gastarem nas latas de milho e azeitona. OK, mais consumidores, e comprando latas de tomate, eles ajudam a comprar mais do lote e paga-se mais um pedaço do custo da máquina. Só que acaba o $ também do pessoal da fabrica de máquinas, pois eles também tiveram de comprar a máquina de fazer máquina, ou pelo menos as peças como parafusos e chapas. Quem comprou da fabrica de máquinas? As pessoas de A, B e C: eles gastam $ para comprar a máquina e para trocarem de latas entre eles mesmos. Nessas trocas as pessoas da fabrica de máquinas também não precisam comprar sua própria produção e sim entrar no sistema de compra e venda diversificada (acrescentando a indústria de máquinas na OBS)

Permanece o problema de o total de pessoas de todas as indústrias não poderem comprar todas as mercadorias (agora incluindo as máquinas que são meios de produção), mas pelo menos diminuiu a proporção não-comprada. Porém daí em diante é fácil: acrescenta-se o salário+lucro dos produtores de pregos e produtores de chapas (anteriores à indústria de máquinas). e estes por sua vez não terão como pagar totalmente os produtores de alumínio e aço refinado. Acrescenta-se o salário desses, e não se tem para pagar o produtor de limalha de ferro e do extrator de bauxita e por aí vai. Marx admite: esta forma de resolver o problema vai sempre deixar um resto, fracções cada vez menores de horas que geraram salário e lucro, mas sempre um resto. Para pagar a maquinaria de esferas de produção maiores, procuram-se horas trabalhadas de esferas menores que forneceram esses meios de produção (pois nessas esferas menores também acrescentaram trabalho à matéria-prima) e resta o valor de outra maquinaria/matéria-prima.

Chamando a maquinaria de capital constante (C) e o trabalho de capital variável (V), C de Ciclano foi fabricado pelo Beltrano, que veio da soma de C + V, ou seja, para se fabricar máquinas do Ciclano foi preciso a máquina de Beltrano somada ao trabalho contratado pelo Beltrano. E C de Beltrano, da soma de C+V Fulano, e assim por diante.

C1+V1=C2; C2+V2=C3; C3+V3=C4... (C2 maior que C1, C3 maior que C2...)

Dizer que o $ para consumo veio de esferas de produção menores não quer dizer que aí o lucro do capitalista ou os salários sejam menores, se trata de menores em volume de $, e abrangendo esferas de produção e não uma fábrica ou outra. O número de fábricas de máquinas de enlatados será sempre menor que a de produtos em lata. Se empregam o mesmo número de gente (digamos que seja dificílimo produzir as maquinas) aí sim os salários e lucros são menores, ou se o capitalista tem o mesmo lucro (ou até maior), quer dizer que os metalúrgicos são mais explorados, mas não que em volume de $ a esfera dos fornecedores seja maior que a que compra essas máquinas/ferramentas. Talvez numa petrolífera por exemplo tanto os trabalhadores quanto seus donos ganhem bem, mas isso porque são poucas as petrolíferas perto do número de fabricas de plásticos e derivados e consequentemente seu volume de $ que forma o mercado consumidor também (pois não tem sentido existirem mais petrolíferas do que fábricas dos seus derivados).

Uma forma da conta não deixar resto é admitir que algo apareceu de graça, digamos de actividade ligada à natureza como extrativismo.

Mas reparem que tal procedimento mostra que a teoria do valor-trabalho não conseguiu dar conta de todo cálculo, pois uma pequena fracção do valor veio da natureza, o que lembra um pouco a teoria do valor amparada pelos antecessores ao Smith, os Fisiocratas, que diziam que o valor vem da natureza.

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