Conhecendo os adversários - Institucionais

Da Thinkfn

No âmbito deste artigo, é também útil ler o artigo O que a gestão de fundos NÃO é.

Conhecendo os Adversários

Uma parte substancial do mercado é controlada por investidores Institucionais. A sua principal característica é a de deterem em permanência quantidades muito elevadas de títulos. Em certa medida são ao mesmo tempo “investidores forçados” e “investidores passivos”. Forçados porque nunca vendem realmente tudo, e passivos porque ao longo do tempo um fenómeno de indexação os faz cada vez mais terem carteiras muito parecidas com os benchmarks do mercado. Um investimento passivo acaba por ser mais um investimento numa classe de activos ou numa economia, do que o prentender saber algo mais de um dado negócio e lucrar com isso.

Note-se que os investidores Institucionais por vezes desviam-se dos benchmarks de acordo com as suas opiniões em casos particulares, mas o peso de manter uma carteira elevada em todas as situações e de os desvios serem relativamente pequenos, significa que a performance institucional tende a seguir a performance dos índices - perdendo quando estes perdem e ganhando quando estes ganham.

Como actuam, e quais os pontos fortes e fracos do Institucionais ?

Os investidores Institucionais gerem Fundos de Investimento, Fundos de Pensões, Fundos de Seguradoras e Fundações. Parte do dinheiro de grandes fortunas também é gerido segundo a filosofia Institucional.

Estes investidores estão no mercado minuto a minuto durante todo o dia, possuem meios de acesso às notícias em tempo real, possuem por vezes departamentos de research próprio e em todos os casos recebem um volume brutal de research de terceiros (tão brutal, que nem sequer o conseguem absorver todo). Todos os dias, recebem chamadas de sales de corretoras com as últimas novidades e análises. Muitas vezes, os analistas com quem falam têm acesso previligiado a fontes dentro das empresas que cobrem, ou fazem o “trabalho de casa” de forma a conseguir descortinar tendências no negócio dessas empresas antes de essas tendências serem evidentes ou públicas.

Ou seja, a maior parte do dinheiro que circula no mercado está bem informado e actua ao segundo se necessário. O seu princípio de actuação é especulativo, pois tende a reagir a novas notícias e desenvolvimentos que lhe chegam de todas essas fontes, mesmo no caso dos investidores Institucionais que parecem investidores passivos (uma pequena alteração de política de investimento, provocada por uma destas novas informações, qualifica-se como uma especulação). Além de especulativo, praticamente todas estas informações são de carácter fundamental, ou seja, é uma actuação especulativa sobre informações fundamentais, de negócio.

Por vezes, este dinheiro também reage a eventos mecânicos, em virtude da sua forma de actuar mais ou menos indexada. Eventos como entradas e saídas de Índices, aumentos de capital, OPA’s, etc.

Assim, esta forma “informada” e rápida de actuar é a principal arma da maior parte do dinheiro a que podemos chamar Institucional.

E quais as suas desvantagens? As suas desvantagens são evidentes:

  • A sua dimensão. O dinheiro institucional, ao ter um peso muito elevado na totalidade do mercado, desde logo condena-se a retornos muito próximos do mercado;
  • A sua necessidade de diversificação. Para evitar o risco, e por estar bastante indexado, o dinheiro institucional não consegue tomar apostas com percentagens elevadas do seu capital;
  • A sua aversão ao risco. Também para evitar o risco, o dinheiro institucional terá dificuldades em justificar a compra de acções em situações polémicas;
  • A sua dependência do mercado. Os Fundos de Investimento estão sujeitos a entradas e saídas do público em geral. O público em geral fica eufórico e coloca dinheiro nos fundos após subidas fortes, e entra em pânico e retira-o após quedas fortes. Os fundos em si, vêm-se forçados a comprar na subida e vender na descida, fruto disso. Além disso, tanto Fundos de Pensões como Fundos de Seguradoras têm um impacto directo na rendibilidade da casa mãe, podendo no limite até colocar em causa a sua solvabilidade. Quer isso dizer que qualquer queda continuada do mercado torna esse impacto notório, e leva a produzir vendas desses players. Por outro lado, quedas prolongadas tendem a levar à necessidade de contribuições maiores para os Fundos de Pensões, que gerarão no futuro compras, ao passo que subidas diminuem essas necessidades, e portanto diminuem compras no futuro.
  • A sua relativa insensibilidade ao preço. Apesar de serem vistos como investidores, os Institucionais muitas vezes não se portam como tal. A indexação na medida em que existe, elimina completamente a sensibilidade ao preço. E a filosofia especulativa baseada em novas informações leva a que reajam exageradamente de forma especulativa em ambos os sentidos (compra e venda), por considerarem pouco o valor absoluto a que os títulos transaccionam antes da chegada das novas informações. Existem obviamente institucionais que fogem a esta regra, mas não deixa de ser uma regra.

Por fim, existe o fenómeno de crescimento dos Hedge Funds, que sendo dinheiro quase Institucional, actua de forma diversa. Na generalidade os Hedge Funds procuram um retorno absoluto e não se sentem forçados a manter-se permanentemente investidos. Esse dinheiro tem todas as vantagens do dinheiro Institucional, sem praticamente nenhuma das desvantagens, excepto a pressão para apresentar boas rendibilidades em todas as circunstâncias de mercado.

Conclusão

Daqui resulta que um investidor ou especulador particular precisa evitar actuar num terreno o­nde esteja em desvantagem. Esse terreno, claramente, é o da actuação no curto prazo com base em notícias, isto porque os Institucionais têm as ferramentas não só para actuar mais rapidamente, como para em muitos casos estarem cientes das notícias antes de elas serem geralmente difundidas.

Resulta também que, face a qualquer notícia, o investidor e o especulador têm sempre que fazer um juízo de em que medida é que é possível que essa notícia fosse antecipadamente conhecida e qual o seu potencial impacto na empresa. Não só pelo comportamento da acção anteriormente à divulgação da dita, mas também pela natureza da notícia em si. O compreender o impacto, prende-se com o saber se a reacção a qualquer notícia, antecipada ou não, ficou aquém ou ultrapassou desde logo o razoável.

Por fim, o investidor bem como o especulador particulares, têm que se posicionar de forma a beneficiar das desvantagens dos Institucionais, que controlam a maior parte do dinheiro no mercado. Isso implica:

  • Fazerem uso da sua menor dimensão, que lhes dá capacidade para abandonarem uma posição mais facilmente do que um institucional;
  • Diversificarem menos que os Institucionais, gerando retornos superiores devido a isso (concentrando-se nas suas melhores apostas, embora não exageradamente);
  • Ter menor aversão ao risco, analisando friamente situações polémicas. E determinando até que ponto elas tenderão a ser temporárias ou permanentes. Isto será menos perigoso para um particular conhecedor, e em empresas que sejam sólidas apesar da situação polémica. Torna-se arriscado se o particular se sentir atraído para papéis APENAS porque são polémicos.
  • Procurar papeís menos cobertos por analistas. Isto implica desenvolver uma capacidade própria de análise, que uma vez desenvolvida tenderá ao mesmo tempo a aumentar os retornos e a diminuir o risco. O particular deixará de lutar contra dinheiro bem informado (excluindo insiders das ditas empresas).
  • Desenvolver uma sensibilidade ao preço. Um particular não é obrigado a comprar em mercados altistas, nem a vender em mercados em baixa, não é obrigado a perseguir papéis que se tornaram caros mas pesam muito nos índices, nem a evitar papéis que se tornaram baratos mas pesam pouco. Isto, claro, também implica o desenvolver de uma capacidade de análise própria.

Autor

Incognitus, em 19/8/2005

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