Procurando valor - Acções que sobem sem subir

Da Thinkfn

Ao valor da totalidade das acções emitidas por uma empresa chama-se Capitalização Bolsista, e não é mais do que a multiplicação do número de acções emitidas por uma empresa pela sua cotação.

Quando a cotação de uma acção sobe, naturalmente, a Capitalização Bolsista sobe. Se o negócio e perspectivas se mantiverem os mesmos, naturalmente a acção fica mais cara.


Será?

Mas, será que existe alguma situação em que o negócio melhora, as vendas melhoram, os lucros melhoram, as perspectivas melhoram, a acção não sobe e no entanto não se pode dizer que tenha ficado mais barata, ou mesmo que não tenha ficado mais cara?

Infelizmente, tal situação existe. Basta para tal que uma empresa emita acções à mesma velocidade ou a uma velocidade superior aquela a que melhora a sua situação.

Isso mesmo já tinha sido abordado no artigo Procurando Valor - Penny Stocks, aplicando-se a Penny Stocks. Mas também infelizmente, o mesmo fenómeno se passa até com empresas respeitáveis e de grande dimensão.

A atitude de emitir acções constantemente (em aumentos de capital, não por incorporação de reservas), é algo que vai contra os interesses dos accionistas. Ainda que possa esporadicamente ser justificada pela necessidade de um dado investimento, a constatação de que isso acontece sistematicamente deveria, só por si, ser suficiente para que a empresa em questão transaccionasse a desconto para os seus pares.

O aumento de dimensão e rendibilidade de uma empresa nada significa para o seu accionista, se esse aumento for conseguido à custa de uma diluição mais que proporcional da sua participação na empresa.

Assim, é possível que as acções subam (fiquem mais caras) mesmo sem subirem (sem que a cotação suba).

Vamos ver os dois exemplos seguintes:


BCP

No final de 1999, o BCP tinha 1000 milhões de acções emitidas, a uma cotação de aproximadamente 5 Euros. Isto dava-lhe uma Capitalização Bolsista de 5000 milhões de Euros, suportada por resultados líquidos de 429 milhões de Euros.

Agora, acabado 2005, a situação melhorou. Os resultados líquidos prevêem-se ter atingido os 665 milhões de euros. Uma melhoria de 55%.

Mas ... a acção está a 2.30, ou seja, bastante abaixo de 5. E no entanto, a Capitalização Bolsista é hoje de 8316 milhões de euros, ou seja, significativamente superior.

O que se passou? Aumentos e mais aumentos de capital. O BCP tem hoje 3600 milhões de acções, contra os 1000 milhões de finais de 1999 (3.6X mais acções). Pelo que para quem investiu em 1999, pouco adiantou o crescimento, os lucros e tudo mais já que o BCP está tão caro (ou barato) hoje a 2.30 como estava então a 5 ...


Sirius (SIRI)

No final de 1999, a SIRI tinha menos de 30 milhões de acções emitidas. Transaccionava a $41.50 e atingiu um máximo de cerca de $65. A $65, a sua Capitalização Bolsista era de 1950 milhões de USD.

Agora, em 2006, a SIRI está a $6.39. Só que tem agora 1326 milhões de acções (44.2X mais!), e portanto agora a sua Capitalização Bolsista é agora de cerca de 8500 milhões de USD.

Ou seja, embora a SIRI esteja a 1/10 do seu valor máximo em termos de cotação, está MUITO ACIMA do que valia quando atingiu essa sua cotação máxima.

Para quem detivesse acções desde 1999, porém, de nada serviria esse consolo ...


Conclusão

A emissão contínua de acções (sem ser por incorporação de reservas ou split) é um factor extremamente negativo. Embora existam casos pontuais em que tal se possa justificar, quando essa emissão é sistemática o resultado é uma diluição grave dos accionistas já existentes, além de transmitir que a administração da empresa que a pratica não tem realmente em conta o interesse do accionista, justificando-se portanto um desconto dessa empresa.


Autor

Incognitus, em 6/1/2006

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