O modelo de originação

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Já aqui abordamos o impacto que a securitização e estruturação de crédito teve na presente bolha de crédito, ao tornar irrelevante o risco do crédito tanto para quem o originava como para quem investia nele. Isso foi feito no artigo A bolha invisível.

Também abordamos os incentivos que todos os níveis desde a originação ao investidor tiveram para prosseguir a actividade até ao ponto presente, em O poder dos incentivos.

Falta, porém, mais um fenómeno que foi crucial na explosão do crédito: o seu modelo de originação.

Tradicionalmente, os bancos concediam crédito como um investimento, e esse crédito ficava nos seus balanços a render juros. Os ganhos que os bancos obtinham da concessão de crédito vinham da margem financeira (net interest margin, diferença entre os juros cobrados pelos empréstimos e os juros pagos pelos depósitos). A contabilização destes ganhos fazia-se ao longo da vida do empréstimo, pelo que os empréstimos feitos num dado ano iriam acumular com os feitos nos anos anteriores e não vencidos.

A grande alteração, nos últimos anos, veio de que no modelo da titularização e estruturação de crédito, os originadores do crédito não ficam a ganhar uma margem pela existência deste. Pelo contrário, o crédito é vendido após a sua originação, e os originadores registam e contabilizam, à cabeça, todo o ganho proveniente dessa venda.

Ora isto vem introduzir uma dinâmica muito diferente na concessão de crédito. Isto porque no modelo tradicional a concessão de 100 de crédito no ano 1, e de 50 de crédito no ano 2, constitui ainda um crescimento dos ganhos de um ano para o outro, já que no segundo ano os primeiros 100 ainda não venceram e continuam a providenciar margem, à qual se acrescentam os 50 do segundo ano.

Já no novo modelo de originação, se uma instituição origina 100 de crédito no primeiro ano, e 50 no segundo, isso equivale a uma brutal queda na produção e ganhos, pois no primeiro ano foram registados todos os ganhos de originar 100, e no segundo só existirão 50 para registar. O que isto significa é uma pressão imensa para manter ou aumentar a produção, e para se fazer isso é necessário conceder todos os anos um montante superior de crédito para se conseguir mostrar crescimento nos ganhos.

E conseguir esse montante mais elevado numa altura em que o mercado está saturado, só é possível por um caminho: baixar os critérios de concessão do crédito. Foi isso mesmo que aconteceu, de forma radical até ao ponto em que em 2005/2006 nos EUA era possível a um desempregado obter milhões de dólares de financiamento para comprar casas. Obviamente isto só foi possível devido à combinação deste modelo de originação, com a total ausência de critérios que veio do modelo de estruturação de dívida.


Autor

Incognitus, em 7/10/2007

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