Armadilha de liquidez

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Na economia monetária, uma armadilha de liquidez (liquidity trap) ocorre quando a taxa de juro nominal se aproxima de zero ou o atinge e a autoridade monetária se vê impedida de estimular a economia usando os instrumentos tradicionais da política monetária. Nestas circunstâncias, as pessoas não esperam grandes retornos dos investimentos físicos ou financeiros e mantêm os seus activos em depósitos bancários de curto prazo em vez de fazer investimentos de longo prazo. Isto torna uma recessão ainda mais severa podendo contribuir para um clima de deflação.

Em circunstâncias normais a autoridade monetária (normalmente um banco central ou ministério das finanças) pode estimular a economia reduzindo a taxa directora ou aumentando a base monetária. Qualquer das duas medidas deve aumentar os empréstimos e financiamentos, o consumo e o investimento fixo. Quando a taxa de juro relevante se aproxima de zero ou o atinge, a autoridade monetária não pode proceder a reduções adicionais nas taxas de juro para estimular a economia (dado que as taxas de juro nominais não podem descer abaixo de zero). Portanto, perde a capacidade de influenciar a economia através do canal taxa de juro.

A autoridade monetária pode aumentar a quantidade de dinheiro em circulação na economia, mas os métodos tradicionais de política monetária não injectam dinheiro novo directamente na economia. Ao invés, a nova liquidez criada tem de ser injectada na economia real através de intermediários financeiros tais como os bancos. Num ambiente em armadilha de liquidez, os bancos evitam atribuir empréstimos e a nova liquidez criada pelo banco central fica assim presa por detrás de financiadores relutantes.

A teoria da armadilha de liquidez aplica-se à política monetária em períodos de depressão não-inflaccionária. A teoria não se aplica a políticas fiscais que possam estimular a economia.

Dinâmica macroeconómica

Posto que a taxas de juro muito baixas, a inclinação da função procura de dinheiro Pr tende no limite para o infinito, quando calculamos o efeito marginal do output Y em relação a R verificamos que a inclinação tende para zero no limite:

Pr → infinito, Ry = -Py / Pr → 0

Em consequência, a política monetária (aumento da oferta de moeda) será ineficaz na estimulação da produção. A política fiscal poderá ser mais eficaz porque levará a curva IS a níveis superiores de produção.

As perspectivas dos economistas

O presidente da Reserva Federal americana, Ben Bernanke, tornou-se popularmente conhecido como "Helicopter Ben" após um discurso em 2002 no qual se assumiu um fervoroso seguidor da solução «dinheiro de helicóptero» de Friedman.<ref>Remarks by Governor Ben S. Bernanke, Federal Reserve Board, 21 Nov 2002</ref>(Direitos de imagem:  Blue Wire Studio) Milton Friedman sugeriu que uma autoridade monetária pode escapar à armadilha de liquidez evitando os intermediários financeiros e dando dinheiro directamente aos consumidores e aos negócios. Isto é conhecido como «presente em dinheiro» ou como «dinheiro de helicóptero». O termo «dinheiro de helicóptero» pretende evocar a imagem de um banqueiro central a deitar dinheiro ao povo a partir de um helicóptero. Considerações de ordem política tornam difícil a uma autoridade monetária dar o presente em dinheiro, porque os indivíduos e empresas que não recebem o dinheiro grátis exercerão pressão política. A autoridade monetária precisa agir de forma coberta para dar o presente em dinheiro a indivíduos ou empresas específicas sem que pareça estar a dá-lo. Durante a grande depressão nos Estados Unidos, a Reserva Federal ofereceu-se para comprar ouro a um preço bastante acima do preço de mercado da altura. Esta oferta foi em essência um presente em dinheiro para detentores de ouro. No Japão na década de 1980, o Banco do Japão decidiu adquirir novas emissões de acções ordinárias e obrigações de empresas como forma de dar um presente em dinheiro a empresas.

John Maynard Keynes é vulgarmente considerado o inventor da teoria da armadilha de liquidez. Do seu ponto de vista, os actores financeiros temem a possibilidade de sofrerem perdas de capital em activos não monetários e preferem deter activos líquidos monetários. Por exemplo, o receio de incumprimento nos empréstimos pode inibir as instituições de fazerem financiamentos excepto a clientes com credenciais de crédito excepcionais. Este receios são mais prováveis após uma crise financeira como a associada ao Crash de 1929. Adicionalmente, se as taxas de juro nominais estiverem extremamente baixas, não poderão senão subir. Isso implica que os preços das obrigações provavelmente cairão pouco depois, causando perdas de capital.

As escolas neo-clássicas da economia, que sustentam que os agentes económicos tomam decisões com base em valores reais em vez de nominais, defendem que esforços monetários para reduzir as taxas nominais isentas de risco não têm qualquer impacto significativo nas taxas de juro nominais cobradas pelos bancos. Um banco não faz um empréstimo a menos que possa cobrar uma taxa de juro (nominal) pelo menos igual à taxa da inflação durante o prazo de aplicação. Num ambiente em que os bancos sejam proibidos ou desencorajados por lei de cobrar taxas de juro altas nos empréstimos, terão maior relutância em fazer empréstimos, dado que fazê-lo resultaria num baixo (e possivelmente negativo) retorno real do investimento. Contrariamente à teoria Keynesiana, que pretende que as armadilhas de liquidez resultam do receio, ou de uma mentalidade de açambarcamento disfarçado, por parte dos bancos, as teorias neo-clássicas argumentam que armadilhas de liquidez deste tipo não existem e que os esforços monetários para reduzir as taxas surtem pouco efeito, se algum, na quantidade de bens reais produzidos.

Note-se que mesmo que a taxa de inflação esperada seja zero, as taxas de juro nominais cobradas pelos empréstimos nunca cairão abaixo de zero. Taxas de juro negativas significariam que os bancos pagavam aos devedores para os financiarem. Ademais, as vantagens de liquidez de se deter dinheiro em ambientes de incerteza estabelece um patamar mínimo acima de zero na taxa de juro a que qualquer instituição estará disposta a conceder um empréstimo.

A armadilha de liquidez do Japão

Tem sido sugerido<ref>Enquadramento Macroeconómico 2005 (em inglês), Banco Português de Gestão</ref> (ver também política de taxas de juro zero) que a economia japonesa durante a década de 1990 sofreu uma situação de armadilha de liquidez. Este diagnóstico induziu um aumento dos gastos governamentais e grandes défices orçamentais como forma de remédio. O falhanço destas medidas em estimular a economia, combinado com a explosão da dívida pública japonesa, sugerem que esta política fiscal pode não ter sido adequada. (Muito dos gastos governamentais ocorreu de forma descontínuada e incluiu gastos em infra-estruturas desnecessárias). O economista americano Paul Krugman sugere que o que era necessário era um compromisso do banco central numa política de taxas de juro zero que gerasse um crescimento monetário contínuo, o que encorajaria as expectativas inflaccionárias e baixaria as taxas de juro reais esperadas, estimulando o consumo.<ref>Página de Paul Krugman sobre o Japão (em inglês)</ref>

A crítica Austríaca

Os economistas da escola austríaca disputam a ideia de que o Japão tenha sofrido uma armadilha de liquidez, defendendo ao invés que este sofreu devido à fase de depressão de um ciclo económico gerado pela inflação monetária, que só podia ser sanado permitindo liquidar os maus investimentos realizados durante a fase de prosperidade. Os austríacos defendem que as fases de depressão são correcções necessárias após as fases de prosperidade e que a expansão artificial do crédito ou outras formas de intervenção governamental só causaram o prolongamento da fase de depressão ou o atraso de uma depressão ainda maior. Assim, culpam a rigorosa intervenção do governo japonês no mercado por ter causado que a fase de depressão se prolongasse durante a década.<ref>Explaining Japan's Recession (em inglês), Ludwig von Mises Institute</ref>

Ver também

Artigos Think Finance

Referências

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Outras referências