Diferenças entre edições de "Análise técnica"

Da Thinkfn
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Viana R., Octávio , ''Estudos no Mercado de Capitais'', Edição I, ATM/NYSE Euronext, pg. 73 a 75.  
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Viana R., Octávio , ''Estudos no Mercado de Capitais'', Edição I, ATM/NYSE Euronext, pg. 73 a 81.  
  
  
  
 
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Revisão das 09h03min de 19 de novembro de 2007

Charles Henry Dow e a sua teoria

O tão conhecido e actual índice de referencia Dow Jones pode nos transportar ao inicio da Analise Técnica, quando em 1900 o homem que lhe deu origem, Charles Henry Dow elaborou os primeiros trabalhos estatísticos acerca da existência de ciclos no mercado de capitais.

Em 1879 Charles Dow entra para a impressa noticiosa Kiernan News Agency, uma agencia que escrevia direccionada para bancos, casas de corretagem e "research", altura em que conheceu Edward D. Jones que também acaba de ser admitido naquela agencia.

Três anos mais tarde, em 1882, Charles Dow e Edward Jones criam a firma Dow Jones & Company, na 15 Wall Street. Distribuíam uma "Newsletter" diária de duas paginas sobre o mercado de capitais intitulado "Customer’s Afternoon Letter" por toda a Wall Street.

Em 1889, Dow era o editor da primeira edição do "Wall Street Journal" impulsionado pela antiga "Newsletter" acima referida. Publicava na altura vários artigos sobre o mercado de capitais seguidos com atenção por toda a comunidade financeira e a partir dos quais desenvolveu a "Dow Theory".

Em 1897, Charles Dow, com 46 anos, co-fundador da Dow Jones & Company, Inc. criou os hoje conhecidos Dow Jones Industrial Average e Dow Jones Transportation Average. Originalmente, na "Dow Theory", a tendência destes índices, constituídos por um determinado numero de acções de referencia, serviam como barómetro para o resto do mercado. A "Dow Theory" foi a mãe da Analise Técnica como resultado de enumeras experiências e observações das cotações históricas. Se inicialmente a intenção não era prever os preços das acções, rapidamente, num trabalho subsequente a teoria foi aproveitada para esse fim, resultando no que conhecemos hoje da Analise Técnica.

Charles Dow foi o primeiro a comparar as variações das cotações com as vagas do mar. Desta metáfora podemos retirar que existem duas tendências, a da “maré” ascendente e descendente. Há depois vagas que podem confirmar ou corrigir a tendência. Para Dow existem três movimentos simultâneos: As tendências de longo prazo, ascendente ou descendente em períodos de um a vários anos; Correcções á tendência de longo prazo em períodos de semanas ou meses; Oscilações diárias, nomeadas assim a tendência primária, secundária e menor (desprezível), respectivamente. O mercado fica assim comprometido com três tendências. Na tendência primária o mercado pode estar ou "Bullish" ou "Bearish", se o mercado fizer sucessivamente mínimos e máximos maiores estará num processo ascendente a tendência primaria é "Bullish", se inversamente fizer máximos e mínimos menores esta numa tendência descendente, "Bearish".

A mudança da tendência só se valida se, depois de vários movimentos, os níveis da cotação não ultrapassarem os alcançados anteriormente, definindo assim um nível de resistência para a tendência ascendente ou suporte para tendência descendente.

A tendência secundária é uma correcção á tendência, é o momento em que o vendedor ou comprador alivia permitindo uma saudável correcção ao mercado (é usual ouvir-se dizer hoje em dia, com ou sem razão, que a tendência secundária é o chamamento de investidores ao mercado - na venda ou na compra consoante a tendência, para permitir a “tendência” vender ou comprar a preços melhores ou então permitir que os investidores que não tiveram oportunidade de entrar ou sair o consigam fazer agora a preços mais apetecíveis), normalmente pode durar entre três semanas a três meses e corrige normalmente de 1/3 a 2/3 do movimento anterior na tendência primária.

A tendência menor ou diária é feita pelas pequenas oscilações diárias e normalmente não ultrapassa o período de uma semana, usualmente situa-se dentro da tendência secundária e é o resultado de pequenos desencontros da oferta e da procura dentro da tendência, por vezes é sujeita a alguma manipulação ou contrario das tendências primárias ou secundárias o­nde a força, o período, o volume envolvidas durante esse período não permite tais actos.

A tendência de longo prazo, tendência primária, é dividida em três momentos: Quando ocorre uma mudança da tendência primária estamos perante um movimento de acumulação caso aconteça depois de uma tendência descendente ("Bearish") ou um movimento de distribuição caso aconteça depois de uma tendência ascendente ("Bullish"), no intervalo temos a entrada da massa. Num primeiro momento, os investidores especialmente bem informados em antecipação ao movimento de longo prazo acumulam não deixando que a cotação atinja novos mínimos com um provável pequeno aumento de preço, no segundo momento, os compradores melhores informados, face a não confirmação de novos mínimos e por isso uma inversão de tendência, entram no mercado comprando acções e elevando bastante o seu preço, num terceiro momento, com as acções a permitirem um excelente ganho, a massa desperta, o publico sente-se confortável para entrar no mercado que esta a subir, convencidos que o só o céu é o limite compram desenfreadamente e com elevados aumentos de volume os acumuladores distribuem abastecendo a massa. Só no fim desta tendência é que o publico descobre que pagou caro e tenta liquidar rapidamente a sua posição entrando em pânico e fazendo mercado cair.

O que é a Análise técnica?

Quem ouve falar pela primeira vez no termo Analise técnica pensa em algo complicado para o que é a mais básica e simples aproximação ao mercado de capitais. O analista técnico simplesmente estuda os preços das acções para obter um melhor resultado de investimento.

Academicamente podemos definir a análise técnica como um conjunto de técnicas que tentam prever o movimento das cotações apoiadas em gráficos que representam o movimento histórico das cotações (sendo por isso também conhecida por analise gráfica ou cartismo) e em técnicas analíticas de previsão das oscilações bolsistas, baseadas em modelos matemáticos, estatísticos e econométricos. A Análise técnica difere da Análise fundamental que, resumidamente, baseia-se nas previsões de lucros futuros das empresas.

Para a escola técnica toda a informação esta espalhada nos gráficos, os gráficos sabem tudo. Os gráficos traduzem o comportamento do mercado e avaliam a participação de massas de investidores que influenciam a formação dos preços.

O preço de mercado representa um consenso. É o preço a que um investidor aceita vender e outro aceita comprar dentro das suas expectativas. As expectativas dos investidores relativamente a determinado valor são espelhadas na cotação. Para os analistas técnicos, o comportamento dos investidores já suficiente para uma tomada de decisão, não importa os motivos que levam os investidores a esse comportamento. O analista técnico acredita que toda a informação necessária esta contida no preço (e algumas vezes no volume) e que todos os fenómenos se podem explicar pelo movimento dos preços. O preço esta para o analista técnico como a rocha para o geólogo, para a maior das pessoas uma rocha não passa de uma rocha, para um geólogo uma rocha pode ser a chave do conhecimento da origem da terra e pode responder e prever inúmeros acontecimentos da Geo. Os preços para o analista técnico, como a rocha para o geólogo, pode ser a chave para o conhecimento da origem de determinado movimento e pode responder e prever a evolução futura. Os factos reproduzem-se nos preço e identificar o ritmo dessas reproduções permite antecipá-los.

Se o preço é baseado nas expectativas dos investidores, então o conhecimento sobre o que se deve comprar ou vender torna-se irrelevante quando se conhece o que outros investidores esperam para vender. Ou seja, se conhecemos o prémio ou desconto que os investidores esperam face ao “valor justo” da acção saberemos o futuro movimento da acção. A expectativa pode ser conhecida replicando nos gráficos movimentos (expectativas) passados.

Analise técnica vale o que vale, assunto que trataremos no capitulo seguinte, no entanto, talvez pela sua simplicidade vs. eficiência, a analise técnica tem cada vez mais adeptos, mas continua a ser um modo de analise muito criticado e contestado, principalmente pelos paladinos da teoria financeira moderna. Algumas teorias põem em duvida a utilidade da análise técnica para a tomada de decisões consideram que as variações dos preços constituem uma variável aleatória. A “Random Walk Theory”, por exemplo, pressupõe a negação da tendência bolsista, considerando que as mudanças sucessivas da cotação dos valores são estatisticamente independentes uma das outras e aproveitando-se da hipótese do “Mercado eficiente” que diz que o os valores formados pelo mercado constituem uma boa estimativa do valor intrínseco ou real dos títulos e assume-se que todos os participantes no mercado têm perfeito conhecimento de todos os elementos que influenciam o funcionamento deste e que qualquer informação nova é imediatamente descontada, considera que nenhum investidor tira vantagem do preço e não se encontra em melhor posição que outro visto que o mercado de capitais eficiente desconta imediatamente toda a informação que o afecta.

Evidentemente que o que interessa ao analista técnico não é o valor real da acção mas o valor a que pode vender ou comprar no tempo futuro. Uma máxima que mostra a pouca importância do valor real para o analista técnico e evidencia a importância da expectativa dos agentes do mercado é “Buy High and Sell Higher”, assim, dentro do pensamento do analista técnico não é importante a teoria do mercado eficiente, do passeio aleatório, ou outra semelhante, para o analista técnico o importante são as expectativas do investidor face ao valor, justo ou não, da acção e essas expectativas podem ser conhecidas pelos valores passados pois muitos investidores constróem essas expectativas em referencias de movimentos acontecidos, se pensamos na importância das resistências e suportes, que explicamos mais a frente, facilmente compreendemos a base de todo o pensamento do analise técnica.

Quanto vale uma Análise técnica?

Analise técnica e a tendência da massa

A AT serve para confirmar ideias ou não e dar sinais de entrada e saída. AT deve ser encarada como uma ferramenta que nos indicam quando devemos comprar ou vender, que nos confirma o movimento e momento ideal do “trading”, em resultado de determinado movimento de preços. A AT não serve como modo de avaliação da empresa que representa acção, para isso existe a AF.

A AT é melhor a olhar para o passado do que para o futuro.

A Escola Técnica afirma que não existem estatísticas para esperança, humor, medo, ganância, actos de Deus (do Governos, estimativas e necessidades e informação secreta). É verdade, não existem e por isso é que a AT não é tudo, é por isso que é falível, é por isso que serve apenas para confirmar movimentos e indicar os momentos do mercado/acção e não para traçar uma estratégia com base na avaliação da empresa.

A Tendência é da massa e a massa emociona-se, tem medo, é gananciosa, tem esperança e etc., por isso é que diz que a tendência da massa é errar. A AT funciona com base na analise das emoções, das expectativas e dos receios dos intervenientes em determinado movimento que se reflectem na cotação, mas, sempre, isenta dos sentimentos da massa, das emoções, da ganância, da esperança, do medo e etc. O analista técnico deve seguir somente o que o gráfico lhe diz e não o que a sua mente, por contagio com a massa, lhe quer fazer ver. Ainda que se possa dizer que a AT reflecte e desconta a “saúde” do activo em avaliação nos gráficos, a verdade é que a AT nem necessita conhecer a empresa, as noticias relacionas ou os fundamentais. Para um analise fundamental, o preço das acções de uma empresa podem subir ou cair, até mais de 50%, que isso não implica que os seus fundamentais tenham sido alterados. Mas para AT, mesmo que os fundamentais continuem a seres os mesmos, é certo que as expectativas dos intervenientes, mudou e isso reflectisse nos movimentos registados nos gráficos. Na AT conta o preço do activo, na AF o preço da empresa.

É importante conhecer a psicologia das massas para melhor avaliar as Tendências do mercado. Um dos papas da análise de massa, Gustave Le Bon, escritor francês que diz que a massa é emocionável, impulsiva, violenta, inconsistente, extremamente descuidado, características que considera de um perdedor no mercado de acções.

Le Bon define a massa como um conjunto qualquer de indivíduos com mentalidade colectiva diversa daquela que têm como pessoas. Ele afirma que, ao se agrupar como uma massa, o ser humano perde a personalidade consciente, adquire sensação de grande poder, dá vazão aos instintos, perde a noção da responsabilidade, comunica-se por contagio (vende a "ideia" aos amigos), aumenta impetuosamente (aumenta o volume por isso é que se da a exaustão), é facilmente sugestionável (quando corre por contagio qualquer sugestão cria indecisão e desconfiança na estratégia, o investidor não acredita no sistema, esta a duvida e não cumpre as regras, não é disciplinado e rapidamente muda de opinião sem saber muito bem porque), é intelectualmente inferior (não pensa, reage com a vontade da massa), desce diversos degraus na escala da civilização (perde o raciocino), pensa que raciocina e não raciocina (é sugestionável), aceita imagens desconexas, tem ideias contraditórias ao mesmo tempo (é influenciável), cria imagens via palavras-de-ordem (OPA, OPA, OPA), aceita frase curtas como solução dos problemas (OPAS, FUSÕES, Crash e etc.), sintetiza aspirações pessoais (vai ser opaba para eu ficar rico e comprar o iate e o castelo).

A massa erra. A Tendência da massa é errar e a AT diz isso, ora vejamos:

Para a escola técnica, a resposta está nos gráficos de preços e volumes, que não é nada mais nada menos do que analisar a massa, a emoção, ganância, medo e etc. que a move.

Os investidores especialmente bem informados, pela famosa informação secreta, ou movidos por uma qualquer intenção compra sem dar nas vistas e com calma, com um pequeno aumento de preço. FASE DE ACUMULAÇÃO.

Os investidores especialmente bem informados, contagiam outros investidores bem colocados, amigos e etc., a que chamaremos compradores melhor informados que aderem ao mercado elevando o preço do papel (MARK UP) de tal maneira que desperta a atenção da ESTÚPIDA massa. O mercado fica activo e os acumuladores distribuem a acção abastecendo a massa (Distribuição) - (melhor altura para vender), depois de tudo abastecido e dos preços se manterem nos mesmo patamares, com a massa a comprar e a segurar e os acumuladores a vender e a travar a subida, a massa nota que o papel não vai continuar a subir e descobre que pagou caro procurando vender imediatamente a acção que não compensou o investimentos entrado no pânico.

Na analise técnica existem vários tipo de gráficos, desde o gráficos de velas, os mais vulgarizados, ao gráfico ponto e figura, o meu preferido, que despreza o espaço temporal retractando apenas os preços aos quais a acção foi negociada, sem levar em conta o dia de negociação, mas identificando com precisão a reversão da tendência dos preços.

Podemos seleccionar um grupo de acções para negociar com base nos fundamentais, sectores, mercados ou outra premissa, mas, vamos ver que, em 99.99% das nossas decisões, a AT é quem melhor nos dará o sinal de entrada e de saída. Não defendo que se deva ser um purista da AT, porque penso que devemos ter em conta a tendência do sector e, porque não, os próprios fundamentais, mas não devemos definitivamente desprezar a AT que é quem nos diz quando comprar/vender. Ou seja, se a análise fundamental nos diz o que comprar/vender a AT diz-nos quando. Evidentemente que alguns puristas da Análise Fundamental podem ter um sistema que lhes permita bons resultados, mas estou convencido que, com o tempo, esses resultados não se vão manter, porque o que interessa, mais do que o valor da empresa, é a vontade do capital em mover-se e esse move-se por vontade do medo, ganância, pressupostos e expectativas dos investidores.

A Analise Técnica deve ser usada para aqueles investidores que se querem situar entre os investidores bem informados (insiders) e a massa, e mesmo os primeiros devem utilizar a AT. Um investidor por muito bem informado que esteja (insider trading) sobre um facto relevante de uma empresa, senão comprar no momento correcto, pode mesmo perder. Imagine-se uma noticia positiva para um titulo que será do conhecimento geral do publico apenas dentro de 3 meses e com um esperado impacto positivo de 5% no titulo. Se a tendência desse papel for negativa, pode chegar a cair mais do que os 5% que se espera de impacto positivo quando o “inside” for tornado publico. Assim, apesar da informação privilegiada do “insider”, esta não lhe vai servir se ele não souber o melhor momento para entrar.

A ideia de que todos os fenómenos podem explicar através das leis naturais é muito antiga, já tendo sido encovada por Anaxárogas, pensador pré-socrático. A ideia é que determinadas circunstancias e factores podem reproduzir-se e conseguir identificar o ritmo destas reproduções permite antecipar. A AT baseia-se no que é realmente é mais importante e tem-se vindo a defender ao longo deste capitulo é a massa, a psicologia da massa. A melhor maneira de tirar proveito da massa é conhecer o que ela pensa e para isso é necessário pensar como a massa, reagir como a massa (sem reagir efectivamente), ter as emoções da massa e fazer exactamente o contrario. É aqui o verdadeiro problema do "trader/investidor", quando não consegue separar o pensamento dele do pensamento da massa.

Não há peritos nem ignorantes, há aqueles que sentem o mercado, estão no mercado, absorvem o mercado e conseguem estar suficientemente longe para tomarem as suas decisões sem serem influenciados pela massa. Ë aqui que Analise Técnica é um ferramenta fundamental, permitindo separar os sinais da massa da própria massa. Ou seja, analisam os movimentos dos preços sem se deixarem influenciar emocionalmente por eles.

Keynes defendia que quem nada sabe ganha tanto como o perito isto porque o perito que acredita que um activo esta subavaliado não terá interesse em adquirir e se pensar vender terá de o fazer ao preço fixado pelos ignorantes. Na verdade só ganha aquele que antecipar os sinais que ele próprio produz, o do preço. O preço pode oscilar bastante e por isso é incerto dai que a melhor maneira será imitar os outros. Mas é porque todos se conformam com essa ideia de imitar os outros (ex.: "MARK UP") que se pode dizer que a massa tem tendência a errar. Quantos mais acreditarem e exteriorizarem essa crença maior é a probabilidade de não acontecer.

A AT é uma ferramenta que, sem dúvida, consegue antecipar os movimentos e é valida e importante por isso. Conhecer o mercado e o estado psicológico do mercado é importante para se conhecer o melhor momento de entrada e saída, mas, é sempre importante nunca esquecer que um investimento deve ter em conta a capacidade de um activo para remunerar no futuro a renuncia ao consumo.

Fontes

Viana R., Octávio , Estudos no Mercado de Capitais, Edição I, ATM/NYSE Euronext, pg. 73 a 81.