A próxima depressão

Da Thinkfn

Em períodos de estagflação, a bolha está nas matérias-primas

Para sair do «crash» bolsista do ano 2000, os bancos centrais aumentaram a oferta monetária, cortaram as taxas de juro para os mínimos das últimas décadas, colocando-as abaixo da taxa de inflação e da taxa de crescimento económico. Tudo isto para estimular a economia. Novamente foi gerada uma bolha no imobiliário e as bolsas recuperaram.

Agora os banqueiros centrais estão preocupados com a inflação. Foram eles que a criaram. Muitas pessoas contraíram empréstimos que não podem pagar, com taxas de juro artificialmente baixas. Agora começam a sofrer as consequências.

Segundo o economista John Williams, da Shadow Government Statistics, nos EUA, a inflação está a tocar nos 11%, muito acima do que é anunciado. Isto significa que a economia americana já está em recessão. Todos os consumidores sabem por experiência própria que os preços estão a subir anualmente muito acima dos 2% ou 3% oficialmente anunciados. Os bancos centrais vão ter de subir as taxas de juro antes que os preços se descontrolem completamente.

Hoje em dia com a interligação dos mercados financeiros globais, o risco de uma perturbação num mercado como o imobiliário, a bolsa, obrigações ou derivados, pode rapidamente espalhar-se para os outros mercados. As ligações entre estes mercados significa que há um risco sistémico nos mercados financeiros mundiais. Mesmo sem uma crise bancária, monetária ou do mercado de derivados que acelere esta quebra, ela acontecerá já entre 2009 e 2011. A recessão económica mundial dos EUA e do mundo é já reconhecida por muitos economistas. O reforço das políticas económicas e monetárias que têm sido usadas com o intuito de evitar uma recessão e que são a causa da situação actual, irão piorar a situação empurrando as economias para uma depressão.

Isto vai resultar na Segunda Grande Depressão, em que a economia irá decrescer e vamos assistir a altas taxas de inflação, altas taxas de juro e de desemprego. As instituições financeiras mais sólidas irão resistir, as outras não. Este período de estagnação económica e inflação é também conhecido como estagflação. A severidade e a duração da Segunda Grande Depressão são incertas, porque dependem das medidas que vierem a ser tomadas e de outras variáveis, mas com a dimensão actual dos desequilíbrios será dura e longa.

A prosperidade do último século foi alimentada também por energia baseada em petróleo barato. O que se passa agora não é que se estejam a esgotar o petróleo e o gás natural, o problema é que se está a consumir toda a capacidade disponível e recursos energéticos baratos. O ‘Pico do petróleo’ está aqui - a produção máxima mundial de crude convencional foi atingida em 2005 e, desde então, entrou em declínio. A procura continua a aumentar e a oferta não consegue manter o ritmo. Com o preço do barril a ultrapassar os $100, a atenção pública vai passar a estar focada na escassez de energia, em vez do aquecimento global e ambiente.

A miséria vai viver lado a lado com grandes lucros, como costuma acontecer em períodos de crise. O imobiliário continuará em queda, enquanto que as matérias-primas vão obter enormes retornos de investimento. A divisão entre ricos e pobres aumentará ainda mais. A classe média continuará a ser esmagada, com o crescimento dos salários a não acompanhar a inflação. A tendência de perda de poder de compra que se tem vindo a verificar nos últimos anos irá acelerar.

Os desequilíbrios após 18 anos de «bull market» nas principais bolsas, que terminou em 2000, conjugado com a maciça inundação de liquidez que criou as bolhas da dívida, bolsa e imobiliário, com o pico de petróleo, a população humana em 6,5 biliões e a crescer, são demasiados factores - e novos - que não estão contabilizados nas teorias tradicionais dos ciclos económicos.

Quais as melhores áreas para colocar os seus investimentos durante períodos de estagflação? Há que estar em sectores que beneficiam da inflação. Que são os metais preciosos, as matérias-primas agrícolas e a energia. Um dos investimentos mais interessantes é a prata, que está agora por volta dos $20. A subida das matérias-primas já começou e vai ser a nova bolha.


Autor

André Ribeiro

www.bonsinvestimentos.com

(Artigo publicado na edição de 21 de Março de 2008 do Jornal "Expresso", e reproduzido com permissão)